Nas últimas semanas, o mercado da soja atravessa um momento de tensão. Os preços do grão têm recuado de forma expressiva nas cotações internas brasileiras, nos prêmios pagos nos portos e também nas negociações futuras na Bolsa de Chicago. Essa queda reflete a convergência de fatores externos e locais, que juntos criam forte pressão sobre os valores.
Quedas expressivas no Brasil — até R$ 5 por saca
De acordo com reportagem do Notícias Agrícolas, os preços da soja chegaram a recuar até R$ 5 por saca em diversas regiões de comercialização no Brasil ao longo desta semana. Muitos estados do interior e nos portos registraram perdas significativas frente à semana anterior.
No interior, por exemplo, em Rondonópolis (MT) a saca caiu de R$ 130,40 para R$ 125,10 (redução de cerca de 4,06 %). Já em Castro (PR), o valor recuou de R$ 132,00 para R$ 126,00, uma queda de 4,6 %. Em alguns casos menos impactados, a perda chegou a cerca de R$ 2 por saca, segundo analistas consultados.
Nos portos, os prêmios também cederam com força. O prêmio para outubro/2025 caiu cerca de 30 “cents” de dólar, o de novembro recuou cerca de 20 “cents” e o de fevereiro/2026 apresentou queda de 10 “cents”, segundo a consultoria Royal Rural.
Analistas apontam que esse movimento de queda generalizada pode ter caráter temporário, mas pressiona especialmente aqueles produtores que ainda não haviam vendido sua produção.
Fatores globais que contribuem para a queda
Para além dos fatores locais, o mercado internacional exerce peso decisivo nesse cenário. Alguns dos principais elementos que alimentam a retração nos preços incluem:
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Arrefecimento da demanda nos EUA / recuo nas negociações em Chicago
A demanda por soja norte-americana tem perdido força, o que tem puxado para baixo os preços futuros negociados na Bolsa de Chicago. Estimativas de safra nos EUA também ajudam a alimentar expectativas mais pressionadas, diminuindo margens de valorização. -
Concorrência da soja argentina
Um dos fatores mais comentados é a decisão da Argentina de zerar as retenciones (impostos de exportação) até 31 de outubro, o que tornou a soja argentina mais competitiva no mercado externo e provocou uma “corrida” chinesa para compra de volumes argentinos. Isso amplia a pressão sobre os prêmios brasileiros. -
Dólar mais fraco frente ao real
Nos últimos dias, o dólar recuou de forma expressiva frente ao real, o que reduz o poder de valorização das cotações do grão no Brasil (medidas em reais) mesmo que haja movimentação internacional. -
Expectativas de oferta abundante no Brasil
A safra brasileira ainda conta com volumes não vendidos e grande oferta ainda no mercado. Esse excesso relativo de oferta também pressiona os preços.
Impactos e riscos para os produtores
A queda nos preços da soja traz uma série de impactos que merecem atenção:
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Margens apertadas
Para muitos produtores que ainda não realizaram vendas, as margens de lucro ficam reduzidas, especialmente quando os custos com fertilizantes, insumos e transporte permanecem elevados. -
Risco de perda no momento de venda
Quem deixar para vender mais tarde corre o risco de “perder o bonde” se o mercado não reagir ou se novas quedas ocorrerem. -
Pressão sobre demanda interna
Com os preços em baixa, o escoamento pode se tornar mais difícil, e compradores internos — indústrias, tradings — podem se tornar mais seletivos. -
Volatilidade e incerteza para planejamento
A instabilidade dos preços eleva o risco para planejamento de safras futuras, financiamentos e estratégias de comercialização.
Possível virada ou acomodação?
Embora o tom atual seja de pessimismo no curto prazo, alguns analistas acreditam que essa pressão poderia se suavizar, caso alguns fatores se revertam ou se equilibrem:
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Uma retomada mais ativa da China como compradora nos EUA poderia reanimar os contratos de Chicago.
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O câmbio pode reagir favoravelmente em períodos de instabilidade externa, beneficiando os preços em reais.
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Ajustes nos prêmios pagos pelos compradores domésticos podem limitar as perdas adicionais.
Contudo, no momento, o mercado exige cautela para quem ainda precisa decidir estratégias de comercialização.