A safra de soja 2025/26 no Brasil vem marcada por um cenário preocupante: replantios pontuais, falhas de germinação e custos crescentes. Apesar de o plantio estar avançando, a instabilidade climática e a elevada despesa agrícola aumentam os riscos para os produtores, que precisam tomar decisões mais cautelosas. Neste artigo, vamos explorar os principais fatores que explicam o replantio, os impactos econômicos e produtivos, e quais estratégias os sojicultores podem adotar para mitigar esses riscos.
1. Cenário Atual da Safra 2025/26
1.1 Avanço do Plantio e Clima Irregular
Segundo a AgRural, a semeadura da soja já ultrapassou 60% da área estimada, mas permanece abaixo do ritmo de ciclos anteriores.
Em Mato Grosso, por exemplo, o avanço enfrenta um dilema: embora o plantio tenha progredido, muitas lavouras registram déficit hídrico, falhas de germinação e necessidade de replantio.
A Aprosoja-MT alerta que a irregularidade das chuvas — períodos secos seguidos de calor intenso — está comprometendo a uniformidade do estande e gerando risco para a produtividade. Aprosoja MT
1.2 Projeções de Produção e Riscos
Mesmo diante desses desafios, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) manteve suas estimativas para a área plantada, em torno de 13 milhões de hectares.
No entanto, a produtividade esperada foi revisada para cerca de 60,45 sacas por hectare, indicando uma possível queda de quase 9% em relação à safra anterior.
Além disso, a produção de soja projetada para Mato Grosso seria de 47,18 milhões de toneladas, número inferior ao ciclo passado.
2. Por que o Replantio Está Acontecendo?
2.1 Falhas na Germinação
A baixa umidade do solo em regiões produtoras como Mato Grosso tem sido apontada como uma das principais causas das falhas no estabelecimento das plantas.
Essas falhas obrigam os produtores a replantar áreas que não emergiram bem, o que afeta o custo operacional e a eficiência da lavoura.
2.2 Custo Elevado do Replantio
De acordo com especialistas, o replantio pode aumentar os custos da lavoura em mais de 10%. Canal Rural
O agrônomo Leonardo Furlani recomenda estratégias como o fracionamento da semeadura: semear parte da área mesmo com baixa umidade e deixar outra parte para replantio caso a chuva chegue.
Essa abordagem, apesar de mitigar riscos, exige planejamento e pode impactar a eficiência operacional.
2.3 Pressão nas Vendas Antecipadas
O risco de replantio e falhas de germinação traz cautela para os produtores que vendem antecipadamente a sua produção. Canal Rural
Com a instabilidade climática somada à volatilidade do câmbio, muitos preferem postergar compromissos comerciais para evitar prejuízos caso a safra seja afetada.
3. Impactos na Produtividade e na Rentabilidade
3.1 Redução de Produtividade
O replantio normalmente atrasa o ciclo da planta, o que pode reduzir o rendimento final da lavoura. A germinação tardia e o estresse inicial da planta podem comprometer o tamanho das vagens e o enchimento de grãos.
3.2 Pressão Econômica
Com a elevação dos custos (sementes, diesel, mão de obra para nova semeadura), a rentabilidade da safra pode ser bastante afetada.
Somado a isso, o custo de custeio em Mato Grosso já mostra aumento: segundo o Imea, os insumos — especialmente sementes — elevaram os gastos por hectare. Canal Rural Mato Grosso
Outra fonte (Cepea) revela que as margens brutas projetadas para a safra 2025/26 podem ser significativamente menores, o que pressiona a viabilidade econômica para muitos produtores. Cepea
3.3 Risco para Outras Safras
O replantio da soja pode afetar o calendário da safrinha (milho de segunda safra). Como o ciclo da soja é estendido, a janela para plantar milho pode encolher, afetando a produção desse segundo ciclo.
Além disso, atrasos no plantio e germinação podem expor as plantas a pragas (como mosca branca), o que eleva ainda mais os custos de manejo.
4. Estratégias para Mitigar os Riscos
Diante dos desafios, os produtores têm adotado algumas estratégias para reduzir o impacto do replantio:
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Fracionamento da semeadura: fugir da semeadura única por toda a área e dividir por partes para plantar quando a umidade estiver mais favorável. Canal Rural+1
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Uso de sementes de alta qualidade: optar por sementes com bom vigor e tratadas, para aumentar a probabilidade de emergência rápida mesmo em condições adversas.
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Manejo de palhada e cobertura de solo: manter cobertura vegetal para reter umidade e reduzir estresse térmico no solo.
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Atenção ao zoneamento climático: utilizar as janelas seguras definidas pelo ZARC para planejar o plantio.
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Monitoramento climático: acompanhar previsões de chuva para decidir quando semear e quando reservar parte da área para replantio.
5. Cenários para o Mercado e para os Produtores
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Para os produtores: é essencial equilibrar risco e oportunidade. A decisão de replantar deve considerar o custo extra, a janela de plantio do milho safrinha e a capacidade operacional da fazenda.
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Para os compradores e investidores: o replantio pode afetar a oferta futura de soja, o que pode ter impacto nos preços dependendo da extensão do problema.
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Para entidades de apoio: associações como a Aprosoja-MT já pedem revisão das projeções oficiais da safra, levando em conta a crise hídrica.
Conclusão
O replantio de soja na safra 2025/26 surge como um desafio real e multifacetado para os produtores agrícolas: não é apenas uma questão agronômica, mas também econômica e estratégica. A irregularidade das chuvas, combinada com altos custos de refazer áreas semeadas, exige decisões mais calculadas e preparo para mitigar riscos.
Embora haja incerteza, existem caminhos para minimizar os impactos — como o fracionamento da semeadura, uso de sementes de qualidade e manejo cuidadoso da lavoura. Para muitos produtores, a sustentabilidade financeira da safra dependerá de quão bem essas estratégias forem aplicadas.
Se você é produtor, consultor ou stakeholder no agronegócio e precisa de uma análise mais profunda ou personalizada para sua realidade, posso ajudar a elaborar cenários ou recomendações. É só me dizer.